Antônio de Souza Filho
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A ilusão de Benjamim
 
                                   A ilusão, também faz parte da vida.

Benjamim mal pode acreditar o que tinha avistado, o ar do ambiente tornou-se para ele rarefeito tudo soprava para um lado, mudava como magia na direção da última cadeira e ali estava "ela" a então garota que um dia tirou o chão dos seus pés; pensou - meu Deus quanto tempo!

Duvidava de si, da sua vista, de suas lembranças, virou-se diversas vezes até se convencer, - sim é ela mesma, um pouco do seu passado estava ali muito próximo de si. De certo modo flutuou na cadeira e foi alçado ao longe, para os locais onde tudo se deu, - lembrou-se, o acaso havia apadrinhado tudo àquilo, todo aquele começo de uma ilusão que nunca imaginou iria ficar para sempre dentro de si.

O prédio rustico da faculdade de direito fora construído para abrigar os frades capuchinos da então Diocese da capital, mas por algum tempo tornou-se a respeitada faculdade de economia do Estado e por último vendido a atual instituição de ensino que fez dali a sua até hoje famosa Faculdade de Direito - é linda a estrutura daquele ambiente, se alguém vagar pensando é possível levitar, pelo tanto de paz que ali se respira, e naquele lugar, Benjamim viveu cinco anos atormentados por uma coisa e por outra a primeira pra concluir o curso e a segunda com o medo de uma lembrança eterna que sabia iria ter daquela doce menina que todas as noites a via subir e descer as escadas do seu coração.

O curioso de tudo é que ela nunca soube que Benjamim a namorava utopicamente, às vezes ficavam no mesmo ambiente, tipo união de salas quando um professor aproveitava um tempo vago, palestras no auditório, às vezes na cantina, também ficavam próximos quando iam para o estacionamento, mas sempre ele cuidava pra que ela não percebesse o quanto ele a admirava, se era timidez não sabia, mas tinha muito medo que ela o mandasse às farpas! Por isso se escondia olhando-a furtivamente, seus pensamentos o traiam, sempre estavam nela, se já chegou, se saiu pra merendar, se já foi, como será que ela está vestida hoje, e o cabelo, será que está de fita na cabeça, está solto, preso, mudou algo?

Assim o tempo foi passando até que ela começou a notar o quanto o rapaz a olhava e indagou com suas colegas, isso ele imaginava, por que sempre uma se dirigia a outra e o olhavam, ficava como um incômodo, ele achava que ela pensava - por que esse cara me olha tanto? Aquilo o deixava muito mal, ele nunca via nela um gesto de carinho, nem um olhar receptivo, a ele parecia que ela tinha medo dele, mas dava a si mesmo respostas que o acalmava – ele pensava: - ela não deve me querer tão mal, olhar não ofende.

Às vezes, também se perguntava – o que é que ele via de tão extraordinário naquela garota? A si mesmo respondia, - será porque ela tem os olhos que eu gosto um tanto graúdos, bem cheios de vida como se estivesse o tempo todo a prestar atenção em algo, ou pelos cabelos negros como a noite, sempre nos ombros caídos, ou pelos braços gordinhos que dá vontade de apertá-los, ou ainda pela altura de aproximadamente um metro e setenta, pelo corpo moreno de quadris torneados com cintura amena e nádegas salientes que mal se suporta na saia ou pelas pernas roliças de pelos dourados de quem sempre se expõe ao sol, não sei, acho que é pelo conjunto de toda essa beleza, terminava por pensar assim.

Benjamim não soube dizer por quanto tempo ficou envolto aos seus pensamentos, mas sabe, fez uma viagem no tempo e estava deslumbrado, - num susto mental se indagou - parece não ter mudado nada, está linda do mesmo jeito de antes, voltou-se pra conferir e sentiu seu sangue se esvair, a cadeira estava vazia, pensou em levantar-se e ver no auditório todo se ela tinha mudado de lugar, titubeou um pouco, mas tomou coragem e levantou-se, não se contentou, olhou em todo o local, nada, apenas o seu perfume que estava em sua mente há anos.

Também deixou a audiência pública que era onde estavam e saiu rumo à porta principal do Fórum, na saída comprou um picolé de cupuaçu exposto à venda naquele local pelo mais antigo dos picoleseiros que ele conhecia, trocavam algumas palavras quando em espirito sentiu uma presença, ficou inquieto, virou-se pra olhar a rua e viu um carro “Van” da OAB parada esperando advogados para locomoção até o estacionamento, de repente como numa passarela ele a viu se aproximar do veículo, estava linda, ele encheu bem os seus olhos, mal pode segurar o picolé, quase o deixou cair, num momento mágico ela olhou ao redor, antes de entrar o avistou e pela primeira vez furtivamente ela lhe sorriu, a porta se fechou o carro partiu.

Benjamim não soube me dizer por quanto tempo ali ficou, e como pode controlar a emoção, também não.
Antônio Souza
Enviado por Antônio Souza em 03/08/2018
Alterado em 05/08/2018
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