Antônio de Souza Filho
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Até bem pouco tempo, se houvesse um concurso para medrosos, não tenho a menor dúvida, eu seria o vencedor, meu Deus como é verdade isso e eu não tenho a menor vergonha de contar.

Sabe aquele cara que faz medo pra si mesmo tipo assim, pensando: – não olha pra trás, não olha! - Que enrijece o pescoço e sente que ele está sumindo entre os ombros e sai caminhando lentamente de bumbum encolhido, olhando fixo à frente e depois sente vontade de correr?! Pois é, assim mesmo que eu era. Posso provar: mas são tantos os casos, ninguém teria paciência pra ler – vou contar uns onde imagino eu próprio me superei, por ordem aleatória das próprias lembranças.

Eu sempre viajei um bocado e todas as vezes que chegava ao meu destino, também começava o meu tormento, eu tinha pavor da noite e de hotéis, primeiro pelo fato de estar sozinho e depois por falta de rede coisa que eu era e sempre fui acostumado, cama somente para o oficio, descanso mesmo pra mim é rede e não se fala mais nisso.

Pois bem, certa vez estava indo a São Paulo e por um motivo que não lembro exatamente tivemos que fazer conexão em Porto Velho, somente seguiria o voo na madrugada seguinte e nos mandaram para um hotel, até aí tudo bem, chegando ao quarto usei o banheiro, tal e tal e me preparei para enfrentar a noite, li parte dum livro depois a bíblia, rezei, procurei lugar como todo mundo faz.

O aparelho de ar condicionado era quase na altura da cama, coisa estranha, muito mais para mim, como já disse, não sou afeito, então eu levantava, apagava a luz e voltava pra cama, depois levantava e acendia novamente, ficava muito escuro, não enxergava absolutamente nada – então pensei vou abrir a janela, talvez tenha grades, como é bem alto não vejo problema, foi só o que deu – puxei a cortina destravei a fechadura e pronto que noite, céu estrelado lua brilhante, pensei - ah, que legal! Quando eu olhei pra baixo minha cabeça voltou sozinha, olhei de novo, aí me arrepiei todo, fechei a janela rapidamente, meio sem jeito quase escorregando para trás – era um cemitério, cheio de cruzes branquinhas e velas acesas. – o que é que esse cemitério tá fazendo aqui há essa hora, - eu pensei.

Pronto! Com a visão veio os benditos pensamentos fazendo medo pra mim mesmo – Ih, o cara fechou a janela tá com medo da gente, vamos lá, vamos lá, - isso eu imaginando que um defunto teria me visto fechar a janela por med, e já estava espalhando pros outros, cai na cama puxei o lençol cobri a cabeça, mas a luz ficou acesa, - caramba, levantei fui apagar e de volta pra cama no escuro, mas piorou os poucos minutos de janela aberta foi o suficiente pra entrar várias carapanãs e elas soavam alto, e eu pensei – essas carapanãs não estavam aqui, são os caras transvestidos, daqui a pouco eles se transformam to lascado, novamente levantava e acendia a luz, - mas aí eles vão confirmar que eu estou com medo, eu pensava – o que é que eu faço? Perguntava pra mim mesmo, tentando me encorajar – bem vou lá embaixo à recepção, deve haver mais alguém por lá – levantei devagar ensaiei um assovio, mas parei pensando e se eles estiverem ai no corredor, tá todo mundo dormindo, melhor ficar aqui mesmo, chegava até a porta e voltava. Liguei a TV, imagina o filme?! Num canal “O exorcista”, noutro “Conde Drácula” e no outro só chiava - fechei rápido imaginando que talvez eles quisessem assistir os comparsas.

Pouco depois bateram na porta e eu desesperei – agora me lasquei, fiquei quieto – bateram de novo e alguém falou - Senhor a Van já está ai – tá na hora do voo. Aff...

Depois eu conto mais, é quase meia noite, o tempo está sombrio, meu quarto é lá em cima e a luz tá querendo ir embora...
 
Antônio Souza
Enviado por Antônio Souza em 10/05/2018
Alterado em 10/05/2018
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