Antônio de Souza Filho
Meus Escritos
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Coisa Estranha

Hospitais, Necrotérios, Cemitérios e Velórios, sempre me causam pavor, evito o que posso, mas às vezes não dá os motivos sempre são diversos.

 
Todavia, o que me impressiona é a inexplicável mudança que me  ocorre, sinto e pratico coisas que depois me envergonho só de lembrar. Estranho, não!
 
E não é de hoje, quando ainda soldado, fui escalado pra velar um militar moribundo que estava no necrotério do Hospital, aff... Não preciso dizer que fiquei do lado de fora e quase nunca olhava pra dentro, muito menos pro caixão. 
 
Quando o colega chegou pra me substituir, então entramos juntos e de repente me deu uma vontade de ri, sem notar cheguei perto do defunto e fiz cócegas no solado de seus pés e falei, agora pode ri o soldado vai ficar contigo. O parceiro virou-se pra mim e disse: - ficou doido?! Depois riu e eu fui embora. O que aconteceu mais tarde eu não sei.
 
Outra vez estava no hospital dando apoio a um parente, eu tinha saído e estava retornando pelo corredor, ao passar por um paciente numa maca parei pra lhe dizer umas palavras de conforto dado ao estado de abandono que eu vi. Olhei melhor pro cidadão e notei que ele era estrábico, fiquei sem saber realmente, para onde ele estava olhando; aí, lá me vem à vontade de ri, e ele entre um gemido e outro procurava ser receptivo.
 
Ele usava um boné tipo boina das que eu gosto, resolvi fazer uma graça pra descontrair e falei: - legal teu chapéu se quiser vender eu compro! Notei que ele melhorou e riu em seguida me disse: gostou mesmo, quer comprar? Eu disse: - sim. Então ele disse: vendo não, esse vai comigo pro buraco. - Tudo bem, - eu disse, em seguida pensei: - será que ele acreditou?
 
Já ia seguindo meu caminho quando ele me perguntou: - o Senhor é médico? Aí quem riu foi eu, rapidamente eu pensei: - será pela minha camisa Branca de punhos e a gravata? Então me voltei, olhei  bem entre os seus olhos, por conta da duvida e disse: - Quando eu era vivo, sim. Sai andando e virei o corredor. Na volta não mais o vi, somente a maca.
 
Mais recente estava no cemitério fui cuidar da sepultura da minha mãe e avó que estão na mesma cova, arrumar umas flores, uma gramazinha, tal e tal né, afinal é pra lá que eu também vou. Uma prima estava comigo, não revelo o nome com medo de represálias.
 
Pois bem, mexi na terra, arrumei uns galhos tronchos, plantei outros. O cemitério estava sem ninguém. A prima estava sentada a borda de outra sepultura, compenetrada, pensando, não sabia em que. Diferente da nossa, aquela sim, bem arrumada com fotos do defunto e tudo o mais.
 
Levantei-me e disse: - vou ao carro pegar uma coisa, ela disse - OK!
 
Fui rápido,  na volta ela estava do mesmo jeito e não me viu se aproximar - então eu segui e fiquei atrás da tumba onde ela estava e com a voz bem macabra falei: Primmma.. Primmma...
 
Ela estava de cabelo preso, notei que seu cangote se encolheu. Novamente eu falei: Primmma.. Primmma... Então, levantou-se, não olhou pra direita e nem pra esquerda,  saiu andando bem devagar com os braços encolhidos e a vista para o carro... A bunda tipo pacu estava mais murcha que boca de ancião.
 
Novamente eu falei um pouco mais alto e gemendo: Primmma.. Primmma..., Socorro! Ela soltou um grito e abriu na carreira.
 
Eu me espoquei de ri. Ela quase me mata!
 
Por último estava num velório; de passagem mesmo, só abraçar os amigos,  verdadeiramente solidário com a dor de cada um. Sentei um pouco e do meu lado  sentou-se um chegado, notei que minha barriga enguiou, - vixe Maria! - Pensei.
 
Falei para o amigo: preciso ir, não estou bem do intestino. Ele falou: - aqui tem banheiro é bem ali. Eu disse: - Não, Deus o livre! Eu me conheço. A moça que estava ao lado ficou atenta e riu, aí continuei: - melhor não, se eu soltar um "pum" essa turma toda corre, se eu for ao banheiro quem levanta e corre é o defunto.
 
A garota levantou-se com a mão na boca, e eu fui embora. O rapaz eu não sei, não olhei pra trás. 
 
Já estou em tratamento.
Antônio Souza
Enviado por Antônio Souza em 19/05/2018
Alterado em 19/05/2018
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