Antônio de Souza Filho
Meus Escritos
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A Saudade que Ficou

Sigmund Freud que me perdoe, mas tem coisas que só mesmo o tempo consegue explicar. Sim, hoje, olhando a vida de outra janela, percebo quantos momentos me passaram despercebidos e que eram ao seu tempo, simplesmente maravilhosos, senão inovadores.

Lá na época do colegial, como sempre eu fazia, depois de um dia exaustivo de trabalho e aula noturna proveitosa, mas cansativa; andava, do colégio pra casa, sempre pelo mesmo caminho, sabia exatamente como era a panorâmica do trajeto; nos bares os mesmos bêbados, nas esquinas as mesmas garotas de saias curtas e aclamativas, o ônibus da hora, uma confusão aqui outra ali, tal e tal, tudo igual.

Meus passos eram avexados, mas vez ou outra em determinado lugar eu os cadenciava, por um justo motivo que a mim cabia - era quando dois amigos queridos gazeteavam as aulas e ficavam na frente da igreja, mais precisamente no salão paroquial, eles ali conversando e ouvindo músicas num daqueles aparelhos da época "toca discos", - não me recordo qual a bebida que tomavam, mas pelas circunstâncias deduzo que era a bendita cachaça talvez em forma de caipirinha ou "batida", não sei, o certo é que estavam sempre alegres, das músicas lembro-me muito bem.

Tanto um quanto o outro tinham o mesmo gosto musical "Creedence Clearwater Revival, Beatles, Rolling Stones e a Banda Brasileira - Renato e seus Blue Caps" esta era a minha preferida, me balançava na duvida de ir ou não até lá, eles me acenavam e todas às vezes eu protelava, mas saia pensando como aquilo ali podia estar bom - Sim, descontração no final da noite, é tudo de bom, - mas eu precisava acordar muito cedo no dia seguinte.

Foi ali que de longe ouvi pela primeira vez "A Saudade que ficou" dos “Caps”, sem saber que ficaria comigo por toda vida, motivos não sei exatamente, talvez de outra vida, posto que naquele momento a natureza daquela canção, eu desconhecia por completo, quem a compôs deveria ter sofrido de algo extremamente maravilhoso que é a paixão, linimento incontestável do amor.

Dizia a canção:


Quem não tem na vida uma grande dor
Que do coração jamais se afastou

Essa dor tão ruim
De alguém que não quis
Aceitar um amor tão sincero
É a dor de uma saudade que ficou

Eu também sou triste igual a vocês

Tive um grande amor que um dia me fez
Ser feliz como o dia
Que fica a esperar
Seu amor, sua noite tão linda
E depois partiu pra nunca mais voltar...
 
Pouco tempo depois vim a ter plena consciência de tudo aquilo, principalmente da canção, mas o próprio tempo me exigiu discrição e um eterno convívio com a tal saudade que ficou.

Não devo ser o único com sentimentos guardados secretamente, irreveláveis, posto que somente àquele tempo pertenciam como era a delirante historia de meus amigos.

Romantismo, como é bom e como massageia o coração. Freud, imagino, sabia sim de tudo isso, mas guardou pra si.
Antônio Souza
Enviado por Antônio Souza em 01/06/2018
Alterado em 01/06/2018
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