Zé Honorato sempre dizia... “tudo tem o seu lado bom, mesmo que seja o mal” e assim, Ele vivia, na roça com os demais da comunidade, casinha simples coberta de palha e chão de paxiúba, igual as outras da vizinhança. Quase todos viviam da pesca, do que plantavam e colhiam, e também do que caçavam na mata, vasta e bela, além de farta. Podia-se dizer, naquela localidade todos viviam felizes, ainda que na pobreza. Mas “coisas” aconteciam e nem sempre tão elementares.
Chico menino, era o parceiro do Zé, de caça e pesca, tinha esse nome por conta do Pai, também se chamar Chico, se achava esperto e vivia querendo dar conselhos pra Zé Honorato, que de bobo não tinha nada e só ouvia as tolices do cumpádi, que, também, assim o chamava. - Sempre as quintas feiras eles saiam p’ra caçar, combinavam se encontrar as quatro e meia da madrugada já no caminho do mato, um pouco distante de suas casas.
Ocorre que Zé Honorato sempre se atrasava em torno de uma hora, ou seja, já chegava no ponto de encontro com o Sol se abrindo e Chico menino ficava bravo. E haja conselho: - Zé, isso não se faz com os amigos, deixar esperando é falta de consideração: e Zé dizia: - Você tá certo, vou seguir seus conselhos, mas hoje não deu mesmo, eu já ia saindo de casa, quando a mulher levantou pra beber água, só com aquele beibidolzinho, ela sem querer pegou nas minhas costas, eu ainda estava sem camisa, aí tu já viu, né... por isso eu me atrasei... Chico respondeu: - é, tu sempre diz isso, mas é só quando tu vem caçar. Depois disso a orelha de Chico tremeu e ele ficou matutando: - Será?!... Que safado....
Na semana seguinte do mesmo jeito, Chico não disse mais nada, mas se planejou: - Vou brechar esse bandido. Na madrugada seguinte ao invés de ir p’ro ponto de encontro, foi p’ra casa do Zé, chegou de mansinho e olhou pela brecha da porta... Zé parecia já ter saído, só estava a cumádi na cama e bem à vontade, Ele pensou é o que eu suspeitava, esse bicho tá comendo gente... Quem será?! – Nesse instante a cumádi pressentiu algo e levantou, foi à porta e viu o Chico. – Que tu tá fazendo aqui... cadê o Zé, ele saiu pra ir te encontrar pra caçar.
Chico tremeu, mas se achando esperto respondeu: - É eu sei, eu passei p’ra lembrar ele do terçado que Ele sempre esquece... ela disse: - Tá, vou pegar pra ti, mas ói, já tem café pronto, quer um gole? - Chico entrou na casa e disse: - Sim, ainda bem, a Doraci não faz p’ra mim não, eu se quiser que faça. Ela falou: - Eu já deixo pronto p’ro Zé, p’ra Ele não me incomodar de madrugada... - a orelha de Chico voltou a tremer, aí falou: - É mesmo é?! – E com voz mansa perguntou: - quer dizer que não tem nem um chameguinho não, antes de ir p’ro mato?! – Ela dobrou o beiço e disse: - Quem dera faz é tempo que n’um quer nada... Chico se alegrou e disse: - Ta igual lá em casa, chega eu ando zonzo... - aí .... Bem, aí você entende o que aconteceu, né.... - Na saída Chico disse: - esquece o terçado, nem conta p’ra ele que eu vim aqui... Maria ficou com a mão no queixo, mas alegre como estava, deixou p’ra lá.
Chico saiu correndo para o ponto de encontro e conseguiu chegar uns dez minutos antes que o Zé e sem se dizerem nada entraram na mata p’ra caçar... O tempo passou... semanas adiante... Zé continuava chegando atrasado e Chico já não dizia mais nada... até um dia eles se olharem desconfiados um do outro... ambos pensavam: - que diabo tá acontecendo, onde que esse sacana tá indo e o outro: - por que não reclama mais?! –Chico pressentiu algo e desconversou, aconselhando Zé Honorato, por que esse tinha mania de fazer cocô no mato e limpar a bunda com folhas... – Rapaz, para com isso, tu vais terminar com uma coceira sem cura... ou picado por uma cobra. Zé respondeu é mesmo, né... vou seguir teu conselho... e rindo continuou: - mas olhe pelo lado bom, ninguém faz assim como eu, de aviãozinho em cima dum toco no meio do mato e os dois riram à vontade...
Nesse instante como praga fosse, uma cobra picou o Zé enquanto se levantava p’ra limpar o rabo e bem na ponta da bicha dele... era uma surucucu pico de jaca de veneno que mata em menos de vinte e quatro horas. Zé caiu p’ra traz morrendo de dor... chico pegou um pau e matou a cobra... Zé continuou gritando... ai, ai..., me carrega que eu não posso andar... Chico disse: - Eu não posso contigo, vai morrer nós dois pelo caminho... – fica aqui que eu vou buscar o médico. O Doutor Lucas morava nas redondezas... Zé gritando disse: - Vai logo se Ele não puder vim, mas diga o que eu tenho que fazer... Chico foi, encontrou o médico... Ele o acalmou e disse: - Volte lá, passe um pouco de sal no local da picada, depois chupe e cuspa, até extrair boa parte do sangue, depois envolva com gaze e espere... vai passar... Chico arregalou os olhos e saiu assombrado... voltou pensativo, e resmungando... “eu, mesmo não... nem pensar”... Ele não havia falado p’ro médico qual era o local da picada...
Chico, já no local com Zé Honorato esse lhe perguntou: - Então, cadê o médico ele não pôde vim, não?! E o que ele disse p’ra fazer?! Chico respondeu: - Pôde não e disse que tu vais morrer... – Mas olhe pelo lado bom tu vai p’ro Céu. - Zé olhou p’ro Chico sabendo que ia morrer disse: - Vou não, só se tu me perdoar... Chico disse: - De quê, o que foi que tu me fizeste? Zé confessou: - Eu tava pegando a cumádi tua mulher, por isso chegava atrasado... Chico olhou p’ra Ele tirou um papel do bolso e disse: - Vai lá em casa e mostra a recomendação do médico, ela pode te salvar... eu te perdoo por que também tava pegando a tua, no mesmo horário teu. Dias depois trocaram de mulher e continuaram amigos e caçando juntos... Agora sem atrasos.
A mulher do Nacib estava grávida e bem barriguda e ele comentou com o Jacob que estava com tesão recolhido e a mulher daquele jeito. -- Tem problema não compadre, vá lá em casa, dê cem dinheiros pra ela e alivie-se com a minha. E assim foi feito. Ao voltar pra casa, Nacib contou pra mulher que se aliviou com a comadre por 100 dinheiros. E ela foi rápida e rasteira: -- Volte lá e pegue o dinheiro de volta, porque quando o compadre precisou eu não cobrei nada!