Indignação de momento
(Crônicas/consumidor)
Há poucos dias assisti um programa de TV, onde uns repórteres, juntamente com algumas autoridades, faziam, segundo eles, uma Blitz em defesa do consumidor. Eles entraram num açougue e começaram a apontar falhas no ponto de vista das irregularidades, conforme determina a Lei do consumidor, (produtos vencidos, sem etiquetas, mal armazenados etc...).
Até aí tudo bem, o Estado tem sim, o dever de fiscalizar tudo que se põe a disposição da população, afinal são os contribuintes que sustentam a nação. Principalmente em nosso País onde a carta magna, logo no seu artigo primeiro e parágrafo único, diz que: Todo o poder emana do povo (...) nos termos da referida Constituição. A TV, (mídia) também tem um papel: mostrar para os demais da sociedade o que ocorre nesse meio.
Porém, da maneira como essas fiscalizações são formadas e, também são expostas ao público em geral é que em alguns casos chama a atenção, pelo excesso de zelo com que deixam transparecer e, se formos a fundo vemos abuso de autoridade e irresponsabilidade social. Posto que a mesma carta que fundamenta esses deveres, também protege aquele que legalmente está oferecendo seu negócio. Assim diz a carta, no mesmo artigo primeiro, inciso quarto: “Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”.
No caso vertente, a equipe de repórteres e autoridades, entre elas um delegado, um politico e salvo engano agentes da fiscalização sanitária, praticaram uma verdadeira cena midiática, que culminou com a prisão d’um simples gerente de setor do referido açougue, bombardeado com dezenas de perguntas capciosas. Também levaram apreendidas várias mercadorias. Isso depois de expor o nome do estabelecimento, e formar uma enorme aglomeração de pessoas no local. Para tudo isso, o político fez questão de dizer que estavam atendendo uma denúncia de um consumidor.
E eu fiquei pensando: esse consumidor se tinha algo pessoal contra o dono do açougue se sentiu feliz “vingado” por qualquer coisa que tenham feito contra ele. Também fiquei pensando no devido “processo legal” que tanto estudamos na faculdade. Mais ainda, no papel da imprensa, se isso é decente levar a bancarrota um estabelecimento comercial que emprega muitas pessoas e que pagam fielmente seus impostos, taxas e tantas outras coisas pra poder funcionar. Sim, por que quando um tema desse é jogado no ar, repercute na imprensa e redes sociais, a primeira coisa que ocorre é a fuga dos clientes e, por conseguinte a quebra de receita do ponto de venda.
Refleti sobre essas quatro coisas: a denúncia, ok. É bem válido e dever do cidadão, embora fuja os princípios cristãos que devemos ter: o de “advertir” as pessoas sobre seus erros e socorrer-se na lei quando houver desrespeito etc. e tal. O interesse do político é bem fácil de compreender. A imprensa faz qualquer coisa por audiência. Quanto ao suposto abuso de poder da polícia, deixo com você meu querido leitor, vez que minha reflexão não tem o condão de me insurgir contra ninguém, muito menos influenciar pessoas a insubordinar-se. Nada além de uma indignação de momento.
Livre expressão.
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Antônio Souza
(Escritor)
Construção – Chico Buarque